quarta-feira, 28 de junho de 2017

PT: REZARAM A MISSA SEM O CORPO PRESENTE



O #BlogDoÉden reproduz artigo  (publicado originalmente no Jornal GGN) de Fernando Horta, historiador, doutorando da UnB. Ótima leitura! 

REZARAM A MISSA SEM O CORPO PRESENTE

“A explosão de vontade popular que o Partido dos Trabalhadores prometia ficou apenas na vontade. (...) Lula ficou muito aquém da expectativa. Esse malogro relativo complica bastante o futuro dessa legenda; se todo o carisma do líder metalúrgico não lhe trouxe o suporte que se esperava em São Paulo, como será a organização nos demais estados, onde não há Lulas disponíveis?”

O texto acima foi veiculado na Folha de São Paulo no dia 16 de novembro de 1982. Lula ficou em terceiro colocado, com pouco mais de 10% para o governo do estado. O PT fez 8 deputados federais e 12 estaduais no Brasil inteiro. Nenhum governador, nenhum senador. Os comentaristas políticos afirmavam que seria uma legenda “natimorta”. Se em dois anos que teve para se organizar o PT não tinha colhido bons frutos, a verdade é que nada ali indicava – segundo a mídia – que o partido “vingaria”.

Em 1989, Lula recebeu quase 12 milhões de votos para a presidência, fazendo pouco mais de 17% do total. Em 1994, Lula recebia 17 milhões de votos (27% do total) e em 1998 – antes de FHC liberar a crise do real – Lula recebia 21,5 milhões de votos perfazendo quase 32% do total do eleitorado. O PT, que havia recebido 3,1 milhão de votos para governador em 1986, recebeu 5,3 milhões em 1990 (elegendo seu primeiro senador) e em 1994 recebia 6,7 milhões de votos para governador, elegendo os dois primeiro governadores da sigla.

Para um partido que tinha “o futuro bastante complicado” sem “Lulas disponíveis” pelo país, o crescimento era homogêneo, tanto Lula quanto do PT amalhavam votos de forma semelhante. Em 1994, a bancada federal do PT era composta de 5 senadores (um eleito em 1990 e 4 em 1994) e cincoenta deputados federais. Nas eleições de 1998, dominadas pela polêmica emenda da reeleição, o partido faria apenas 59 deputados federais, três senadores e três governadores. O modelo do partido “amador”, na terminologia de André Singer, parecia esgotado. Em 1997, José Dirceu era eleito de forma indireta para a presidência do PT, e com ele surge o chamado “partido profissional”.

Nas eleições de 2002, o partido faria 91 deputados federais, crescendo mais de 70% e Lula seria eleito presidente com 39,5 milhões de votos no primeiro turno e 52,7 no segundo. Em 2001, o PT tinha cerca de quinhentos mil filiados. Qualquer análise séria destes números deve levar em conta a nova gestão feita por Dirceu, mas também o absoluto fracasso do segundo governo de FHC e seu receituário neoliberal. O PT havia crescido suas bases até o máximo que o convencimento oral e a manutenção do “partido-raiz” conseguiram até 1998. O salto dado em 2002 é certamente maior do que o PT. A classe média, cansada e empobrecida, não comprou mais o discurso engomado do PSDB. Lula por seu turno, deixou de usar camisa polo vermelha e figurar como um líder sindical, para vestir terno e gravata. O famoso “lulinha paz e amor”.

De 2002 a 2014, entretanto, durante o momento mais alto da Era Lula e depois o primeiro governo Dilma, o número de deputados federais que o PT elegeu caiu constantemente. Foram 83 em 2006, 73 em 2010 e apenas 70 em 2014. O PMDB mantinha-se como a maior bancada no plano Federal. Já nos municípios, o PT ameaçava seriamente o controle do PMDB. Em 2012 o PT governava 37 milhões de pessoas em termos municipais, batendo pela primeira vez na história da República pós-64 o PMDB, embora fosse apenas o terceiro partido em número de prefeituras. Para um partido que nunca havia feito mais do 5% dos votos totais nas eleições municipais este era um indício perigoso para o fisiologismo do PMDB.

Em 2006, em função do mensalão muitos declararam o Partido dos Trabalhadores “morto”. Inclusive há versões sobre análises internas da oposição à Lula, de que seria melhor evitar o impeachment e deixa-lo “sangrar”. Em 2006, após o primeiro ataque midiático-jurídico ao PT Lula se reelegia com 46,5 milhões de votos no primeiro turno (mais do que na eleição anterior) e 52,2 milhões no segundo turno. O aumento do número de votos supera o crescimento do número total de votantes, mostrando que Lula e o PT ganhavam votos em meio à crise. Ainda, o partido passava de 411 prefeitos eleitos em 2004 para 564 eleitos em 2008 e atingiria o auge de 635 em 2012.

A pergunta que se deve fazer é, este aumento do PT durante o período de crise é efetivamente “PT”? Penso que não. O tamanho de um partido de matriz rígida ideológica é sempre pequeno. O PSOL padece deste problema. Para crescer e amealhar espaços efetivos no sistema federal é preciso aumentar o conjunto de pressupostos ideológicos aceitos como válidos. Alguns dirão que o PT “aumentou demais” o seu conjunto, mas penso que aqui jogou ainda o papel da classe média, embalada pelo crescimento da economia. Em 2010, Dilma faria 47,6 milhões de votos no primeiro turno (mais que Lula em 2006) e 55,7 milhões no segundo turno. No início de 2013, Dilma atingia 79% de aprovação, em 19/3, segundo o IBOPE. O índice era maior que Lula e FHC em seus primeiros mandatos.

Em 2013, começa o ataque ao PT e ao governo Dilma. Primeiro as chamadas “Jornadas de Junho” e, em seguida a campanha presidencial do PSDB coloca em movimento as ferramentas das redes sociais. A economia já dava sinais de retração, seja pelo custo da crise internacional e o recuo das demandas de China e União Européia (nossos dois maiores compradores), seja pela fim do “superciclo” das commodities, o que se vê é que o orçamento brasileiro passa a diminuir. Logo em seguida, em 2014, temos a criação dos grupos protofascistas no Brasil (MBL e assemelhados), hoje se sabe que com financiamento internacional e de partidos como PSDB e PMDB. E recrudesce a Lava a Jato com a tática de Sérgio Moro dos vazamentos para “ganhar o apoio da população”, como ele indicaria em artigo escrito em 2004.

Mesmo com forte ataque midiático, e social (com os movimentos de internet direcionados pela histeria comunista) o PT faria nas eleições de 2014 seu maior número de governadores, cinco. O número de filiados em 2015 crescia mais de 80% em relação a 2014 e era o maior registrado entre os partidos no Brasil. O partido que tinha cerca de 840 mil filiados em 2005, vai atingir quase 1 milhão e seiscentos mil em 2014, aumentando ainda mais este número nos anos seguintes.

No ano de 2014 ocorre um fato que é cabal para o impeachment e o acirramento da campanha de criminalização do PT. Ao mesmo tempo que se discutia no judiciário a proibição do financiamento de campanha por meio de empresas, José Dirceu, José Genuíno e outros políticos do PT conseguiam levantar imensas somas em doações espontâneas e individuais para fazer frente às multas impostas pela justiça. Gilmar Mendes, o representante da oposição no STF naquele momento, perde a compostura diversas vezes, pois via que o PT teria como financiar suas campanhas sem as empresas (o “partido amador”, lembram?), já a elite não. O desespero toma conta de Gilmar, que não só vota contra o fim do financiamento como pede “vistas” ao processo para que a lei não valesse para as eleições de 2016.

Diante de toda a crise política, da lava a jato, da crise econômica, das traições do PMDB e do custo midiático do constante ataque, nas eleições de 2016 o PT ganha apenas 255 prefeitos e faz 2812 vereadores, pouco mais da metade do que fez em 2012 (5181). Parte dos analistas políticos, da mídia e dos intelectuais “ex-esquerda” vestiram preto e sorriam felizes no velório do PT. Vociferavam o fim do partido com felicidade semelhante ao espanto com que receberam a notícia desta semana, de que o PT era o partido mais preferido pela população e que crescia o número de simpatizantes. Vários intelectuais postaram-se a fazer verdadeiras ginásticas retóricas que envolviam desde “compra de apoio por cargos” até a velha “falta de memória do povo”. Tristes pessoas.

A verdade é que a campanha colocada em prática desde 2013 fez desembarcar do projeto nacional petista a classe média que o tinha alçado à presidência em 2002. Mas o custo desta campanha é imenso, seja para o Brasil seja o custo individual, e esta classe média já percebe que a economia do projeto neoliberal vai lhe colocar de novo em 1998. Ainda, estão evidentes os abusos contra Lula (e também contra Vaccari, condenado por Moro a 15 anos, preso por quase dois e depois absolvido no segundo grau!). Isto tudo ajuda na recuperação dos índices do PT, mas o principal ponto é sua militância.

Em toda a turbulência, o militante do PT tem se mantido fiel. Não precisou trocar de candidato nem apagar fotos correndo, conforme provas robustas iam sendo apresentadas na mídia contra PSDB e PMDB. Lula é sem dúvida o grande nome para 2018, mas não subestimem o maior partido de massas de esquerda da América Latina. Tampouco imaginem que a classe média é completamente manipulável. Quando começa a faltar comida na mesa não adianta vídeo no youtube, pastor entregando panfleto anticomunista ou palestra motivacional de “empreendedorismo”. A verdade é que alguns fizeram um velório sem corpo. Riram antes da hora e agora não sabem explicar o motivo do crescimento do PT. Desconfio, pela ética dos comentaristas, que vai acabar terminando no “povo”. Vão voltar a dizer que o povo é “burro” e “sem memória”. Tudo fazem para conseguir uma “democracia sem povo”, uma democracia “mais limpinha e cheirosa”. As máscaras caem mais rápido do que eles conseguem recolocá-las.

terça-feira, 13 de junho de 2017

MIRIAM LEITÃO SEMEOU VENTO; COLHEU TEMPESTADE.



Miriam Leitão não é terrorista. Adjetivá-la assim é covardia, sobretudo por ter sido ela presa pela Ditadura. Empurrar sua cadeira, como a jornalista relatou no artigo de hoje, é mais grave ainda, é agressão e merece todo repúdio.

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Dito isso, há vários entretantos, contudos, todavias e poréns nessa história toda.

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O primeiro entretanto se chama empatia. Para a Psicologia, empatia é a identificação de um sujeito com outro; quando alguém, através de suas próprias especulações ou sensações, se coloca no lugar de outra pessoa, tentando entendê-la.

Miriam provoca nossa empatia com o seu texto. Sentimos dó, pena, nos colocamos no lugar dela e podemos perceber a injustiça, a agressividade, a sensação de impotência...

Mas, pôde Miriam, n´algum momento, se colocar no lugar dos petistas? Pôde a jornalista pensar sobre os sentimentos dos militantes? Conseguiu ela refletir sobre quais reações suas opiniões e posturas poderiam provocar ao longo destes anos?

Por óbvio a ação dos dirigentes naquela aeronave foi errada e por muitos já condenada. Mas ninguém vai se colocar no lugar deles? Lanço aqui um desafio a Miriam e a todos que estão com o dedo em riste acusando os petistas de serem intransigentes, intolerantes e até violentos.

Se coloca no nosso lugar.

Põe uma camisa da CUT e vai andar no Eixão, para saber o que é coação.

Veste um boné do MST e experimenta ir ao Iguatemi, para ver o que é intolerância.

Nas redes sociais, tenta defender Lula e entenderá o que é perseguição.

Pega o mesmo vôo de volta a Brasília com a camisa do PT e saberá o que é manifestação de ódio...

Não estou defendendo o revanchismo, o olho por olho, o justiçamento. Longe disso. Mas não posso deixar de pontuar a parcela de responsabilidade que outros personagens tem sobre a consolidação deste cenário, extremado e perigoso.

Quem semeia vento, sem erro, colhe tempestade.

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Eu sempre fui bastante liberal neste quesito: políticos, personalidades, figuras públicas, tem que saber que estão expostos a manifestação popular. Lembram quando Dilma foi vaiada numa universidade nos EUA? Escrevi texto defendo o direito do cara de fazer isso.

Acho errado abordar a figura pública quando está no "dia de folga", em ambiente privado, com a família e filhos, etc. Agora, na rua? No aeroporto? Mas é claro que pode. No linguajar católico, é nosso dever e nossa obrigação.

Querer transformar isso em crime, deselegância ou coisa que o valha, se aproxima de Dória e sua ridícula tentativa de censurar críticas a ele nas redes sociais, ou a Temer e a grotesca iniciativa de proibir uso de sua imagem em memes nas redes sociais. Miriam Leitão, assim como toda e qualquer pessoa pública, tem que se submeter, sim, a um possível constrangimento popular. Digo e repito: sem covardia, agressão ou injúria.

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Outra coisa , me lembrou o amigo Fernando Stern, ela sofisma ao dizer que a emissora foi fundada depois de Getúlio, afinal de contas o jornal O Globo existia e foi, sim, atacado após seu suicídio (ver abaixo).

Ela, nesse caso, acusa os petistas não ter conhecimento histórico mínimo. Ou a carapuça serve para ela; ou foi cinismo puro. Vai saber...

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PS: por curiosidade, não mais que isso, dá um Google na expressão "Miriam Leitão repudia ataques ao PT"... Que tal?

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Sobre o ataque ao Globo:

No entanto, após o suicídio de Getúlio, os veículos de imprensa, artífices do golpe foram também golpeados pela população ensandecida.

A "Tribuna da Imprensa" de Lacerda foi empastelada. A redação de 'O Globo' foi atacada, carros do jornal foram destruídos, o 'Jornal do Commercio' teve sua oficina invadida, vários dos 17 jornais foram alvos da massa", diz Janio de Freitas.



http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/151113/Janio-conta-como-Get%C3%BAlio-foi-morto-pela-m%C3%ADdia.htm 

sexta-feira, 9 de junho de 2017

DEMOLIDOR DE IBOPES



Nas últimas três eleições na Bahia os institutos de pesquisa ficaram nacionalmente conhecidos pelos erros em suas previsões. Apesar das urnas darem a vitória aos candidatos do PT já no primeiro turno, as sondagens sempre mostraram vantagem para os candidatos do DEM e seus aliados.

Foi divulgada na manhã desta sexta-feira (09) pela Record TV Itapoan, levantamento sobre a intenção de votos dos eleitores baianos para o Senado, em 2018, quando haverá duas vagas para a Bahia.

Jaques Wagner (PT) aparece na frente (36,1%) dos demais candidatos em todos os cenários pesquisados, superando adversários do DEM, PSDB e PMDB com mais que o dobro das intenções de voto.

Se até o Instituto Paraná está admitindo a liderança de Wagner, das duas uma: ou a vantagem é tão grande que não deu para esconder; ou querem fazer as pazes com o eleitorado e não cometer os erros de 2014, 2010, 2006...

(Texto circulando nos grupos de WhatsApp da Bahia. O #Blog não identificou autoria.)

quinta-feira, 1 de junho de 2017

A POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO DA BAHIA


A POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO DA BAHIA

Vamos direto ao ponto: a Bahia é hoje o melhor lugar para se investir no país. As condições necessárias a um ambiente favorável para o desenvolvimento econômico são segurança jurídica, infra-estrutura instalada e eficiência na gestão. E tudo isso se vê na Bahia.

Em um cenário nacional adverso, marcado por instabilidade e incertezas, e mesmo enfrentando forte queda em suas receitas - somente do FPE a Bahia perdeu mais de R$ 1,5 bilhão entre 2013 e 2015 - nosso Estado é exemplo para o Brasil. O Governo Rui Costa alia racionalidade e austeridade, sem atrasar salários, abandonar investimentos, nem paralisar obras.

E por falar em obras, é difícil destacar somente algumas. São muitas, são estruturantes e tem, junto com as políticas sociais, mantido um nível de atividade econômica ímpar. Em andamento, temos a Linha 2 do Metrô, a Linha Azul, a Linha Vermelha, a Via Barradão, a Via Metropolitana e o Anel Viário de Candeias. A caminho, a Linha 3 do Metrô (Pirajá, Águas Claras e Cajazeiras); o VLT do Subúrbio; e a Nova Rodoviária. Quem circula o Brasil sabe que não há lugar com tantas e tão importantes obras.

A Bahia deixa evidente, assim, que possui um governo sólido, marcado pela responsabilidade, que cumpre seus compromissos e garante um excelente ambiente de negócios para o investidor.

E é neste contexto que a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE), sob a condução do ex-ministro Jaques Wagner, tem atuado na atração e promoção de investimentos, nacionais e estrangeiros, para os setores estratégicos da economia baiana. A SDE tem agido, em articulação com diversos outros setores de governo, para oferecer aos novos empreendedores incentivos fiscais, concessão de áreas, regularização fundiária, licenças ambientais, investimentos em infra-estrutura, enfim, um leque de estímulos e benefícios para quem quer se instalar e produzir, de maneira responsável e sustentável, na Bahia.

Somente nos quatro primeiros meses de 2017, foram assinados na secretaria 43 protocolos de intenção, com a estimativa de investimentos de R$ 1,6 bilhão e geração de mais 5 mil novos empregos, nos mais variados setores, tais como Química, Petroquímica, Mineração, Energias Renováveis, Economia Criativa e da Cultura, Agronegócio, Agricultura Familiar, Calçadista, dentre outros.

Além dos incentivos citados, apostamos também nosso maior potencial de atração: o povo baiano. Sempre acolhedor, que sabe receber e tratar bem os seus visitantes, o baiano tem um compromisso com o trabalho que favorece ganhos de produtividade, como em poucas regiões do país.

Assim, não temos dúvida em (re)afirmar que hoje a Bahia é a melhor opção de investimento no país. Estado que gera crescimento, com segurança jurídica e eficiência, sem abrir mão do desenvolvimento social e elevação da qualidade de vida da sua gente. Os versos eternizados por Caymmi seguem cada vez mais verdadeiros: "A Bahia tem um jeito que nenhuma terra tem".

Éden Valadares é assessor-chefe da Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia.

Hoje o site Bocão News publicou artigo meu sobre a Política de Desenvolvimento da Bahia (reproduzido acima). Fica a sugestão de leitura: http://www.bocaonews.com.br/artigo/577,a-politica-de-desenvolvimento-da-bahia.html