quinta-feira, 10 de novembro de 2016

SOBRE O ÓDIO, MENTIRAS E AS REDES SOCIAIS


Imagino que, assim como eu, você foi bombardeado com milhares de análises sobre a vitória de Donald Trump para a presidência dos EUA, não é? Li de tudo um pouco: do porquê os institutos de pesquisa erraram; de como o trabalhador, branco, industrial de classe média elegeu Trump; da derrota democrata em estados onde o partido vencia há décadas; e de como a campanha republicana colocou Donald no lugar do não-candidato, do anti-político.

Nesse tudo lido e pouco entendido, senti falta de uma abordagem. Afinal, vamos falar da estratégia de campanha abertamente adotada por Trump? De como ele manipulou preconceitos? De como estimulou o ódio e de como as redes sociais formaram um ambiente fértil às estratégias de desconstrução, ataque e mentiras?

Se é verdade que o advento das redes sociais possibilitou uma maior aproximação entre candidatos e eleitores, também é verdade que foram criadas indústrias de calúnias e difamações. Se de um lado trouxe a política para perto das novas gerações com suas múltiplas mídias, formatos e linguagens; por outro, alimentou uma rede de elaboração e reprodução, inescrupulosa, de conteúdos deliberadamente criminosos. Gerou Obama e suas postagens dos bastidores da Casa Branca, mas também gerou Trump e as correntes homofóbicas, racistas, misóginas, discriminatórias.

Donald inventou isso? Não, certamente não. Em 1980 o também republicano Ronald Reagan venceu o democrata Jimmy Carter. Aliás, venceu é pouco. Foi uma surra histórica, tendo Reagan levado a melhor em 44 dos 50 estados. Mas além da enorme diferença (no colégio eleitoral ficou 489 x 49), do fato do eleito ser republicano e também ter um perfil outsider (era ator de profissão), outra coincidência aproxima 1980 de 2016: a campanha do ódio.

Reza a lenda que Reagan autorizou anúncios de sua campanha que acusavam o seu concorrente e então presidente Carter de ser machista e misógino. Como o democrata tinha uma boa relação com os Movimentos pelos Direitos Civis nos EUA, inclusive o movimento feminista, sendo o único candidato a apoiar a Equal Rights Amendment (Emenda de Direitos Iguais), os assessores perguntaram a Reagan se essa mentira pegaria. Respondera ele: "Claro que não. Mas eu estou louco para ver a cara dele desmentindo isso". Assim, Trump não inventou o expediente, mas fez dele sustentação de toda a estratégia política-eleitoral, e não mais apenas uma pegadinha.

O futuro 45o presidente norte-americano apostou na cultura do ódio e do medo; na desinformação gerada pela profusão de canais midiáticos; na ignorância ou desconhecimento de parte da população sobre temas gerais; e na meia-mentira como arma para atacar e desconstruir sua adversária. Apostou e ganhou.

Mas para nós, brasileiros, Hillary não é a primeira candidata vítima de tal estratégia. A Presidenta Dilma Rousseff foi (e ainda é) alvo de intensa e sistemática campanha do tipo. O site Revista Fórum (ver link abaixo) reuniu uma série de boatos e mentiras espalhadas nos últimos três anos sobre Dilma que não deixam dúvidas que a opção da Direita no Brasil foi a mesma nos EUA. Na matéria, o jornalista ainda tenta alertar seu leitor sobre a tática usada: "Não seja bobão, pare de repetir boatos, se informe e repense sobre quem realmente é o ignorante da história."

Ao que parece, o alerta não pegou tanto quanto as acusações... Bom, seguem aqui alguns exemplos de deliberadas mentiras espalhadas nas redes sociais com o único objetivo de destruir a imagem (e o capital político) da Presidenta Dilma. Tenho certeza que você lembrará deles e, o que é pior, lembrará que conhece alguém que acreditou e reproduziu algumas dessas maluquices:

- Alberto Youssef foi assassinado no dia da eleição
- Dilma tinha cometido suicídio
- Dilma congelou a poupança
- Dilma trouxe haitianos para votar nas eleições
- Se Dilma fosse eleita, dólar custaria R$ 6 e o litro da gasolina R$ 8,00.
- A filha de Dilma era dona de mais de 20 empresas; e
- Dilma havia adulterado as urnas eletrônicas

Não sou pesquisador, nem sei se alguma pesquisa conseguirá medir o impacto desse modus operandi no resultado final das eleições em questão. Mas o fato é que muito se falou sobre diversos aspectos da vitória de Trump e pouco se condenou a prática adotada pela sua campanha.

Vencer estimulando a cultura do ódio e do preconceito não representa apenas um rebaixamento do nível político da disputa, como alguns tentam minimizar. Significa atacar frontalmente dignidade da pessoa, os Direitos Humanos e Direitos Civis. É, ao fim e ao cabo, um crime contra a humanidade que cria ambiente e gera como consequência estados de involução na nossa caminhada civilizatória. Não comentar isso é impedir sua pública condenação. Insisto, está na hora de falarmos sobre o ódio, mentiras e as redes sociais.

http://www.revistaforum.com.br

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