terça-feira, 25 de outubro de 2016

O CÚMULO DA SELETIVIDADE

Alguns titulares do consórcio golpista - delegados, procuradores, juízes, congressistas e jornalistas - são seletivos até na adivinhação:

- Adivinham que o Itaquerão foi um presente para Lula (mesmo ignorando os papéis que Alckmin e Kassab tiveram ou mesmo a dívida de 900 milhões que ficou para o Corinthians), mas não conseguem adivinhar quem é o tucano paulista chamado de JS na lista da Odebrecht.

- Adivinham o valor dos pedalinhos ou da canoa do sítio de Atibaia, mas não desvendam quem é o "Santo" ou o que fazia Paulo Preto.

- Eles adivinham palestras que Lula não deu (apesar das provas em vídeo e das entrevistas no local) mas são incapazes de ligar o nome de candidato citado em onze delações ao codinome "Mineiro".

Há justiça quando o pau que dá em Chico, que prende preventivamente Chico, que fala de Chico nos três telejornais, que ataca Chico nas revistas e manchetes dos jornais, que dá coletiva com PowerPoint contra Chico, há justiça quando ele ignora, esconde e defende Francisco?

Já virou piada a possibilidade de ver um tucano preso ou minimamente respondendo aos processos no Brasil...

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

SOBRE HADDAD E A PRESIDÊNCIA DO PT (algumas provocações, não mais que isso)

O PT precisa mudar. Aliás, ele vai. E essa mudança já está em curso, já está sendo forjada nos debates, nos diálogos, na elaboração de novos caminhos que companheiros e companheiras Brasil afora percebem, sentem, racionalizam e disputam.

Sim, isso já está em disputa. E nessa disputa me junto àqueles que entendem que o PT deve, urgentemente, atualizar seu programa, sua estratégia e sua prática política.

Não tenho - eu, sozinho, tadinho de mim - resposta para todas as perguntas que hoje recaem sobre o Partido dos Trabalhadores, a Esquerda Brasileira ou sobre o Socialismo Democrático no mundo. Não tenho e não sou pretensioso o suficiente para querer ter. Esse é um processo gigantesco, que demandará energia de várias gerações e sobre o qual só aprenderemos ao ensinar; só chegaremos ao caminhar.

Daí a minha primeira observação sobre a "tese" Haddad Presidente. Em meio ao turbilhão de articulações, plenárias, grupos de discussão, reuniões de tendências organizadas, de correntes internas, de movimentos sociais e intelectuais por todo o país, eis que a tese é lançada por um único quadro, numa coluna de um jornal paulista, solta em meio a outras notinhas. Ora... Posso estar errado, mas as angústias apresentadas até aqui sobre a necessidade de democratização do PT, de revisão dos seus espaços internos, de atualização de sua agenda ao Século XXI, enfim, todos os ventos que sopraram apontaram no sentido inverso. Ou não?

Percebam que o que aqui escrevo é apenas uma provocação, uma modesta contribuição ao debate. Mas enxergo uma forte crítica a setores que supostamente querem fazer do PT "apenas um partido em defesa de uma personalidade", no caso, Lula, e ao mesmo tempo a defesa de um personagem a candidatura de outro, sem um amplo processo coletivo anterior, apenas com uma singela nota de jornal... A meu ver, há uma enorme contradição.

Contudo, apesar de questionar o método, quero deixar minhas impressões - ainda que preliminares - sobre o mérito. Quais sejam:

Haddad é um grande quadro. Foi muito bem no Governo Federal, fez uma boa gestão na Prefeitura, tentou verdadeiramente inovar e enfrentar as principais questões da cidade de SP - sempre à esquerda.

Além disso, ele é uma renovação geracional importante. Os/as camaradas sabem o quanto acredito, defendo e luto por um processo de renovação geracional no PT.

Dito isso, o problema são as derrotas. E alerto que as opiniões que aqui seguirão podem causar polêmica, mas não é esse o objetivo do texto. É tão somente provocar e contribuir para o debate, como disse, ainda que preliminarmente.

A primeira derrota foi ele (Haddad) ter permitido vazar que poderia sair do PT. Foi aceitar a pecha (imagem) de ser bom, "apesar do PT". Isso pode ter efeito na sociedade, junto ao conjunto das esquerdas, mas deixa cicatrizes fortes entre os petistas. Me marcou e deve ter marcado muita gente.

A segunda derrota foi na urna mesmo. Mesmo considerando o revés que o PT sofreu noutros lugares, a derrota em primeiro turno foi sentida. Sobretudo se considerarmos - e é difícil para mim e cada vez mais para muito mais companheiros e companheiras desconsiderar - que estamos falando (novamente) de um quadro petista oriundo de São Paulo.

O PT de São Paulo tomou 7 milhões de votos de frente para Aécio e Rui Falcão seguiu como presidente do PT. Agora Haddah toma de primeiro turno, e se especula sua chegada à presidência do PT.

Não acho que Haddad seja um nome impossível (apesar de ter sido apresentado via notinha de jornal, coisas de Tarso Genro...). Haddad é, sim, uma possibilidade. Uma, mas não a única.

E se em vez de SP for alguém do Norte ou Nordeste? Se ao invés de quem vem acumulando derrota eleitorais fosse alguém que mais ganhou do que perdeu? Se no lugar de quem está acuado, apanhando e falando em diluir o partido numa frente de esquerda, fosse alguém que foi testemunha e tem orgulho das mudanças que o PT produziu no Brasil?

Podemos achar alguém com esse perfil? Um quadro que se dispusesse a construir coletivamente sua candidatura - em diálogo com as correntes mas também com as demais forças vivas do PT; não só o Estado Petista mas com a Sociedade Petista, por assim dizer - e que além disso tudo saiba que a crise é grande e que é preciso mudar o PT de verdade?

Podemos tentar... né?

PRIMEIRAS IMPRESSÕES SOBRE A PRISÃO DE CUNHA

- A meu ver, pela dupla nacionalidade, pela certeza de que Cunha tem dinheiro no exterior, e pelas fortes suspeitas de que ele vinha agindo para atrapalhar as investigações, essa prisão preventiva parece ter mais justificativa do que a regra (ilegal) usada pela Lava-Jato (onde se prende para depois ouvir). Ainda assim, mantenho minha posição sobre as prisões cautelares: são abusivas e inconstitucionais.

- Obviamente a prisão de Eduardo Cunha - se vier acompanhada da prisão da sua esposa, então, nem se fala - eleva a temperatura em Brasília, mais especificamente no seio do governo golpista.

- 300 deputados, 30 senadores, 15 ministros e 1 presidente ilegítimo (que interrompeu agenda no Japão para voltar imediatamente) estão com as barbas de molho ante a possibilidade de delação de Cunha.

- Só para lembrar o que disse Michel Fora Temer em 28 de abril: "As tarefas difíceis eu entrego à fé de Eduardo Cunha."

- Não se assuste se as últimas notícias sobre a Lava-Jato caírem no esquecimento. Só para constar, nos últimos dias as delações apontaram para Geddel Vieira Lima, Moreira Franco, Romero Jucá, José Serra, Marconi Perillo e Aloysio Nunes Ferreira.

- Articulistas, comentaristas e colunistas da grande mídia tentarão - não duvidem - defender que é chegada a hora de dar fim à indústria das delações. Ou seja, defenderão que a Justiça não homologue a provável delação premiada de Cunha.

- E usarão a prisão de Cunha - apesar de todos os demais e principais capas do PSDB e PMDB estarem soltos e longe das investigações - como argumento para dizer que a Lava-Jato não é seletiva. Ato contínuo, cobrarão a prisão imediata de Lula.

- Luciana Genro foi oposição ao Governo Olívio e ao Governo Tarso. Foi oposição ao Governo Lula e não classificou como golpe a cassação de Dilma. Aliás, ela diz que o golpe ocorrido na Ucrânia é algo positivo. Luciana Genro, pelo Facebook, celebrou hoje com um "Viva a Lava-Jato". Luciana Genro está absolutamente coerente com sua trajetória; errado é quem tenta classificar Luciana Genro como de esquerda. #ProntoFalei

PS: é claro que o Brasil inteiro comemora a prisão de Cunha! Quem é contra o golpe comemora pois sabe o tamanho do banditismo do cara e do papel central que ele jogou na inviabilização do Governo (pautas-bomba) e no afastamento em si; quem é a favor do golpe comemora porque sabe que ele sempre foi um bandido-útil e porque dá a eles o falso argumento que "tirando a Dilma vamos tirar todo mundo"...

OS NORMAIS

Tem um tipo de gente na vida que não consigo entender. De verdade, não consigo. Na vida de vocês pode ter também. Mas são pessoas que estudaram em bons colégios; foram criados por pais e famílias inteligentes; tiveram e tem acesso a estudos, informações e conteúdos de qualidade; mas são absolutamente alienados.

Mas são de tal forma alienados que sequer lembram o conceito clássico de alienação (se você é um deles deve estar indo no google agora, né?) apesar de terem assistido aula, estudado para a prova e terem sido aprovados em História, Geografia ou Economia.

Eles não se esforçam para sair do senso comum, evitam polêmicas, absorvem como verdade a opinião publicada - e passam a compor, então, a tal opinião pública.

Conformam o que estão chamando de classe-média-semi-intelectualizada. São capazes de desenvolver cálculos complexos, constroem pontes e prédios, alguns vestem togas, outros jaleco, a maioria tailleur, paletó e gravata. Dirigem empresas, repartições públicas, clínicas e escritórios rentáveis, mas são incapazes de reconhecer um sofisma (vai lá, corre pro google novamente!).

É a turma que sonha em ser elite - mas pensa já viver como tal. Fizeram inglês, compram em outlet de Miami, só vão para camarote, tem carro importado e, apesar de ter uma série de parcelas e financiamentos - agem como se estivessem no topo do mundo do capitalismo mundial.

Não são racistas pois tem muitos amigos negros e, afinal, nem há racismo no Brasil. Homofobia, sexismo, misoginia é tudo invenção da ditadura comunista que queriam implantar no Brasil. Cuba? Bolívia? Equador? Venezuela? São um tipo de Coréia do Norte da vida. Todos amam o Brasil, mas se bem que nordestinos às vezes passam do ponto - pois cearenses só andam com peixeira, paraíbas são desnutridos e burrinhos, e os baianos preguiçosos por natureza...

PT inventou a corrupção. PMDB um mal necessário. Os tucanos são competentes, modernos e formam a elite de homens públicos a quem se deve entregar a gestão. Veja o exemplo de Minas e São Paulo! O choque de gestão!

Essa gente, comum, muito presente em nossas vidas, desconhece os reais conceitos de democracia, constitucionalidade, justiça. A eles basta o sentimento de justiçamento. Dão-se por satisfeitos.

Eles aguardam, em contagem regressiva, a suposta prisão de Lula. Já bateram panela, tomaram as ruas de verde-amarelo, sabe-se lá o que virá agora. Mas certamente será festivo, comemorativo, um dia feliz.

Essa gente não me é estranha, nem deve ser a vocês. Foram amigos da infância, estudaram com seu irmão, trabalham na mesma firma, moram no seu bairro. Estão por aí, tocando a vida, criando seus filhos, quem sabe até estudando violão...

Elas aplaudiram a chegada da Corte Portuguesa, seguiram o Integralismo (google de novo, hein?), chamaram Prestes de comedor de criança, foram às ruas em abril de 1964 celebrar "a vitória do Brasil". São os mesmos. Sempre.

E provavelmente quando o julgamento da História chegar - ele sempre chega - eles vão negar de que lado estavam. Por puro esquecimento mesmo (quem se importa com política?) ou por vergonha, vão romantizar seu próprio passado e contar aos seus que estavam conscientes, do quanto foram críticos e do esforço que fizeram para alertar os demais sobre o perigo de tal aventura.

E assim seguimos a marcha...

sábado, 15 de outubro de 2016

HORÁRIO DE INVERNO DURARÁ 20 ANOS


Amanhã começa o Horário de Verão. Não é somente adiantar o relógio em uma hora. É antecipar a vida. Acordar uma hora antes, perder a referência do nascer do sol, é bagunçar pousos e decolagens dos vôos e para quem mora em estados não atingidos pelo novo fuso, é perder a novela, o futebol, o programa de TV favorito - e ainda ver o tempo bancário reduzido em uma hora.

Mas a gente meio que estava acostumado, né?

A gente também estava acostumado a votar para Presidente, a escolher qual programa político seria implementado no país, a gente estava acostumado - apesar de todas as dificuldades - a ver os orçamentos da Educação, da Saúde e Assistência Social crescendo ano a ano...

Daí veio Temer, veio o governo sem voto, veio o projeto sem respaldo da urna e a famigerada PEC 241. Contraditoriamente, amanhã o Brasil entra no Horário de Verão e com a PEC 241 podemos entrar num inverno de duas décadas.

"The winter is coming", dirão os fãs de Game of Thrones...

Para quem acha que pode haver certo exagero neste prognóstico, sugiro a leitura da Nota 28 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), assinada no mês passado pelos pesquisadores Fabíola Sulpino Vieira e Rodrigo Pucci de Sá. Segundo o estudo, a Saúde perderá R$ 73.000.000.000,00 em recursos. É muito zero, né? Mas é isso mesmo: 73 bilhões de reais em investimentos em Saúde.

O governo sem voto, e por isso ilegítimo, vende em parceria com a grande mídia a ideia de que estão cortando na carne. E realmente estão. Cortam na carne dos brasileiros e brasileiras que dependem do serviço público para ter acesso a direitos fundamentais.

A proposta da PEC 241 prevê o congelamento dos gastos federais em Educação, Saúde e Assistência, dentre outros, por duas décadas. Para a gente ter uma ideia do que isso significa na prática, nos últimos quinze anos, o incremento real  nestas áreas nos permitiu investir mais de R$ 100 bilhões - quantia ainda insuficiente para suprir as necessidades da população e muito aquém de elevar nosso país à condição de Estado de Bem-estar Social, como prevê nossa Constituição.

Em outras palavras, há 15 anos a gente investe 100 bi nestas áreas e ainda tínhamos muito para avançar. Com a PEC 241, não haverá mais esse investimento (ficará restrito à correção inflacionária) e temos a certeza que as políticas públicas sofrerão retrocesso na qualidade e quantidade. 

Perderemos uma hora de banco, e também a possibilidade de novas universidades federais; perderemos uma hora de sono, e também novas unidades de saúde; perderemos o vôo, e infelizmente perdemos o caminho de construção de um país mais justo, com oportunidades e direitos para todos e todas.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

RESOLUÇÃO DA CEN/PT PÓS-ELEIÇÕES 2016 (EU GOSTEI)

Nota oficial: Comissão Executiva do PT divulga resolução política: A Comissão Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores, reunida em Brasília no dia 05 de outubro de 2016, aprovou a seguinte resolução política:

1. A ofensiva desferida contra o PT pela mídia monopolizada e os aparatos da classe dominante, desde a Ação Penal 470 até as vésperas da eleição municipal, culminou com uma derrota profunda do campo democrático-popular, principalmente do nosso partido. E resultou num avanço conservador em todo o País.

2. É fundamental reconhecer, porém, ao iniciar nosso balanço – necessariamente detalhado, criterioso, sereno – que o duro revés estampado nos números deveu-se, também, a outros fatores, avultando entre eles nossos erros, cometidos antes e durante o processo eleitoral. Analisá-los e extrair lições para recuperar o terreno perdido é uma tarefa autocrítica, a começar pela direção partidária – que não se exime de suas responsabilidades – e abrir-se para o conjunto da militância.

3. Antes disso, vale ressaltar que o cenário negativo em que se realizaram as eleições municipais é produto, em grande medida, do movimento político iniciado após o pleito de 2014 quando os derrotados passaram a sabotar o governo e a empenhar-se na sua deposição.

4. O aprofundamento da crise econômica a partir de 2015, a criminalização do PT e a ação corrosiva da mídia monopolizada erodiram a base eleitoral progressista, provocando forte recuo da influência petista sobre administrações locais e legislativos municipais.

5. Apesar da resistência ao golpe institucional, especialmente antes da votação da admissibilidade do impeachment pela Câmara dos Deputados no dia 17 de abril, o PT e a esquerda não conseguiram reconquistar o apoio, a confiança e a identidade da classe trabalhadora, dos pobres e dos setores médios, inconformados com o ajuste fiscal implementado pelo nosso governo.

6. As medidas então adotadas serviram de pretexto para que a classe dominante e os partidos conservadores impusessem a narrativa do estelionato eleitoral.

7. Mesmo afastado do governo desde maio, continuam a ser atribuídas ao PT, de forma direta ou indireta, as enormes dificuldades da economia, agravadas pelo programa ultraliberal, antinacional e antipopular aplicado pelo governo golpista. Basta ver a campanha veiculada agora pelo governo usurpador, com um slogan de duplo sentido e que deixa evidente, ademais, a intenção de liquidar o PT. Não tivemos sucesso, durante o primeiro turno, em construir uma contra-narrativa capaz de desmascarar o programa defendido pelas forças golpistas e associá-lo a seus projetos privatistas para as cidades.

8. Não conseguimos tampouco apresentar listas mais amplas de candidaturas a prefeito e vereador, o que já prenunciava uma redução numérica que, afinal, superou as expectativas mais pessimistas, sobretudo nas grandes cidades e em municípios que já governamos.

9. A “ reforma política” comandada pelo ex-deputado Eduardo Cunha, reduzindo o tempo de campanha e os programas tanto no rádio quanto na televisão, acabou por limitar nossas possibilidades de enfrentamento contra os partidos de direita.

10. Da mesma maneira, ao permitir autodoações sem teto para os candidatos e ao não fixar um limite nominal para as contribuições individuais, abriram-se brechas para a influência do poder econômico, dando mais razão à nossa defesa do financiamento público exclusivo das campanhas.

11. Também teve importante impacto, particularmente nos grandes centros urbanos, a escalada antipetista da Operação Lava Jato, que nos trinta dias anteriores às eleições desencadeou ofensivas fraudulentas, mas de ampla repercussão, contra o presidente Lula e ex-ministros de seu governo.

12. Em que pese a vitória sobre o campo democrático-popular, o bloco conservador sai do primeiro turno com divergências que podem se acentuar. Não é o caso de enumerá-las agora, mas é importante tirar proveito delas na campanha do segundo turno, sobretudo nas cidades onde candidaturas progressistas enfrentarão esquemas conservadores e da direita.

13. A Direção Nacional do PT orienta nossa militância a apoiar incondicionalmente as candidaturas do PSOL, do PCdoB, da Rede e do PDT nas capitais, bem como daqueles com quem já estivemos no primeiro turno. Além disso, sugere aos diretórios municipais que avaliem localmente a quem devemos negar apoio e voto.

14. Conclamamos a militância a cerrar fileiras em torno das sete candidaturas petistas neste segundo turno: Recife, Juiz de Fora, Santo André, Mauá, Vitória da Conquista, Santa Maria e Anápolis. É decisivo envidar esforços para unir o eleitorado democrático e popular, abrindo nossas campanhas para todos e todas que desejarem compartilhar dessa empreitada.

15. A CEN parabeniza todos os governadores e prefeitos, parlamentares e militantes, que travaram o bom combate nas condições mais adversas dos últimos anos. Cumprimenta todos os candidatos e candidatas, eleitos ou não, por aceitarem, com bravura, uma tarefa fundamental na defesa de nosso partido e do legado de nossos governos.

16. Sem minimizar o resultado desfavorável, encaramos a perda como uma batalha no processo de resistência democrática e de reorganização do PT e do campo popular. Da derrota, extrairemos lições que possibilitem reorientar nossa prática, a fim de recuperar a confiança política dos trabalhadores, da juventude, das mulheres, dos intelectuais, acumulando forças para retomar o projeto de transformação social que constitui nossa razão de ser.

17. É preciso, nesse momento, conjugar a mobilização na campanha eleitoral com o empenho de nossas bancadas na Câmara e no Senado de se mobilizarem com as bancadas de oposição para derrotarem a PEC 241, a PEC do arrocho, o PL do Pré-Sal e a MP da reforma do ensino médio.

18. Ao lado do povo brasileiro, dos demais partidos progressistas e dos movimentos sociais, os petistas continuaremos, nas urnas e nas ruas, a lutar contra o governo usurpador e a retirada de direitos, em favor de eleições diretas já e pela reforma do sistema político.

Ousar lutar, ousar vencer!

Brasília, 5 de outubro de 2016

Comissão Executiva Nacional do PT

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

AINDA SOBRE AS ELEIÇÕES - E O DEPOIS...




Primeiramente, Fora Temer!

E é necessário sempre iniciar com essa palavra de ordem pois ela cumprimenta todos os guerreiros e guerreiras que foram às ruas e urnas, como eleitores ou candidatos, lutar contra o golpe e pela democracia. Assim fizeram por convicção política e compromisso com os ideais e valores democráticos, mesmo em um ambiente desfavorável, hostil, de perseguição e criminalização que tem como foco central o PT, mas também o conjunto da esquerda e as conquistas sociais acumuladas no período recente.

Desta forma, abraço os companheiros e companheiras do PT que venceram as disputas em 37 cidades baianas, os vereadores e vereadoras eleitas, e também aqueles que não se elegeram mas travaram a batalha de cabeça erguida.

Cumprimento também os aliados do campo de sustentação do Governador Rui Costa que igualmente defenderam o projeto de mudanças na Bahia. Graças ao seu compromisso a Base Aliada saiu vencedora na maioria dos municípios baianos. Entre as 48 cidades com população acima de cinquenta mil habitantes, por exemplo, nosso grupo venceu em 30 e seguimos na disputa do segundo turno em Vitória da Conquista.

A campanha de destruição do PT não alcançou seu objetivo completo, mas é preciso reconhecer que se consolidou. É possível ver isso na queda dos números de gestores eleitos pelo partido; no avanço do PSDB, DEM et caterva; mas sobretudo na elevação do sentimento de descontentamento com a política expressado nas abstenções, votos brancos e nulos.

Se o desencanto - soma das abstenções, brancos e nulos - se fosse candidato estaria no segundo turno em São Paulo, Salvador, Recife, Porto Alegre, Curitiba e Fortaleza; e venceria já no primeiro turno em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro. Os resultados das urnas provam aquilo que imaginávamos: o desencanto com a política é um movimento político perigoso, que traz de volta ao debate público a agenda da intolerância e fortalece a direita conservadora.

Não é lamentação de derrotado, fuga do necessário processo de auto-crítica, nem desculpa. É constatação.

Assim como é constatação a consolidação do golpe - que não ficou restrito ao plano simbólico ou figurado. Ele se fez valer de maneira concreta na sociedade (inclusive nas camadas populares). Seria absurdo imaginar que a campanha de desconstrução do nosso projeto - implementada incessantemente toda hora, todo dia, durante anos - não seria traduzida em perdas eleitorais significativas. O resultado eleitoral é, senão no seu todo mas em grande parte, produto do que se acumula no período anterior. E esse período, para nós, é de saldo negativo. Seja pela ofensiva articulada pela grande mídia, pelos partidos conservadores e setores do judiciário; seja pela nossa própria responsabilidade e erros acumulados.

Fica cada vez mais urgente a necessidade de renovação do nosso projeto político, dos nossos quadros e ideias. Uma renovação que signifique um sincero diálogo entre gerações, com atualização da nossa agenda para produzir respostas, no campo da esquerda, a desafios contemporâneos como o desemprego, o retrocesso disfarçado de Reforma Trabalhista, o congelamento dos investimentos em Saúde e Educação, ou as questões ecológicas. Uma renovação que consiga verdadeiramente combinar as lutas pelos Direitos Humanos, Direitos Civis, as questões das novas Identidades Sociais com a luta contra as injustiças perpetuadas pelo sistema capitalista. Uma renovação não apenas teórica, mas também prática, de método, que se concretize em compromisso real com os valores democráticos e socialistas.

É urgente atualizar nossa comunicação com a classe trabalhadora e com a sociedade como um todo. Não somente a linguagem, a estética ou os meios dessa comunicação. É preciso também renovar nossa capacidade política de representar, ser referência e liderar.

Em um país cujas as estruturas políticas são elitistas e reproduzem sua tradição oligárquica, escravagista e opressora, o nosso desafio é manter viva a possibilidade de representatividade efetiva dos negros, das mulheres, dos jovens, da cidadania LGBT, dos mais pobres, da classe trabalhadora.

Maiorias eleitorais são conjunturais. Erramos em não traduzir as maiorias eleitorais de outrora em acúmulo para a disputa da hegemonia cultural. Mas não acredito - e minha vida dedicada à luta do povo baiano é testemunha disso - em Fim da História. Para mim, essa eleição é o início de uma nova e longa jornada.