terça-feira, 9 de agosto de 2016

“SALVADOR MELHOROU PARA QUEM?” PROVOCA ALICE EM ENTREVISTA EXCLUSIVA



Alice Portugal (57) nasceu em Salvador em um 16 de maio, data simbolicamente importante para o movimento estudantil e para as lutas populares da Bahia. Graduada em Farmácia-bioquímica pela UFBA, sempre foi filiada ao PCdoB, partido pelo qual foi deputada estadual de 1995 a 2002, e três vezes eleita deputada federal (2002, 2006 e 2010).

Alice tem um histórico de militância política que começou na luta contra o regime autoritário, marcou sua trajetória em defesa dos negros, índios e mulheres, e na luta ao lado dos professores, estudantes, profissionais de saúde e servidores públicos.

Escolhida pela sétima vez consecutiva na lista dos "Cabeças" do Congresso do DIAP, Alice foi oficializada como candidata à Prefeitura de Salvador em uma coligação que conta com o apoio do PCdoB, PT, PSB, PSD e PTN, além do governador Rui Costa, do ex-ministro Jaques Wagner e dos senadores Otto Alencar e Lídice da Mata.

Abrindo a série de entrevistas do Blog do Éden, a candidata comunista defende a nacionalização das eleições municipais, mais investimentos nas áreas sociais e provoca o atual prefeito, ACM Neto (DEM): “Salvador melhorou para quem? Para a grande massa, para o povo que mais precisa, não melhorou.”

Acompanhe a íntegra da entrevista:




Blog do Éden – Afastamento de Dilma, governo interino, ataque às políticas sociais, retomada de medidas neoliberais. Está claro que é golpe, mas a hora é de resistência ou reação?

Está claro que é golpe. De fato, como não houve qualquer crime que tenha sido comprovado, que pese sobre os ombros da Presidenta Dilma, não há porque ter impeachment. Então o momento é reagir, o momento é de resistir e reverter o golpe para garantir o retorno da presidente eleita com mais de 54 milhões de votos de brasileiros. Portanto, é hora de resistir, reagir e reverter o golpe.

Blog do Éden – Há quem aposte que o eleitor, ao escolher prefeito, analise apenas a questão local. Como esse cenário nacional influenciará a disputa em Salvador?

Essas eleições, mais do que nunca, serão eleições completamente ligadas ao cenário político nacional. É necessário traduzir nas cidades o tipo de governo, a forma e o foco de governo que queremos ter. Não é possível que os governos municipais sejam ligados ao governo golpista. Portanto, a expectativa é que essa eleição seja, de fato, completamente ligada à questão nacional, à questão democrática. Queremos cidades mais humanas, cidades que garantam os mesmos programas sociais que foram desenvolvidos durante os governos do Presidente Lula e da Presidenta Dilma. Primeiro democracia e “Fora Temer!”. Segundo o debate sobre a realidade de cada cidade, de cada município, articulada com a questão nacional.

Blog do Éden – Salvador melhorou. Esse é um sentimento presente na cidade. Por que mudar?

A resposta vem em forma de pergunta. Melhorou para quem? A verdade é que governar é fazer escolhas e a atual prefeitura, o gestor atual de Salvador, uma cidade extremamente complexa, ele optou por apenas fazer uma maquiagem nos principais cartões-postais da cidade. E isso, lamentavelmente, não resolve o problema de Salvador. Pequenas intervenções nos bairros populares e intervenções, por exemplo no Rio Vermelho, que o valor gasto de quase R$ 70 milhões poderia servir para construir creches em Salvador, que tem um déficit de 150 mil vagas. Portanto, melhorou para quem? Para a grande massa, para o povo que mais precisa, não melhorou. A cidade continua sendo a que menos investe em Saúde entre as capitais brasileiras, uma enorme desatenção em relação a Educação Pré-Escolar e Infantil, que é quando a criança consegue desenvolver o cognitivo e o emocional, e faz seu perfil ser construído. Se não fosse o governador do estado, Rui Costa, tomar providências com relação às encostas nós teríamos visto com a chuva deste ano novas vítimas como vimos nos anos anteriores. Isso sem falar na mobilidade, porque se o Governo do Estado não coloca os metrôs nos trilhos, estaríamos até hoje olhando aquele museu a céu aberto, desqualificado, que eram os resíduos das fracassadas tentativas de que o metrô funcionasse. Então é mudar, sim. Mudar para melhor, mudar para governar para aqueles que mais precisam.

Blog do Éden – O que está certo e deve continuar? O que precisa ser trocado?

O que está certo é continuar embelezando. Eu sou mulher e gosto de tudo bonito, então vamos continuar embelezando a cidade. Agora o que está errado, por exemplo, é a falta de democracia. Se for prefeita de Salvador, reconstruiremos os conselhos municipais, os conselhos precisam funcionar. Vamos constituir democracia nas prefeituras-bairros, não como está agora que é um processo permanente de cooptação de lideranças, e não de debate com as comunidades. Não há debate com os bairros, não há debate com as comunidades. Vamos também dar um jeito na questão dos programas sociais na cidade. Para que possamos estimular a geração de emprego e renda, vamos apostar na rede de economia solidária. Vamos conveniar com o Governo do Estado e oferecer formação técnica para nossos jovens ou mesmo adultos que busquem essa oportunidade. Vamos também ter atenção com os idosos, buscar programas que o Governo Federal já oferece, que estimulam a participação em atividades lúdicas que são importantes para o desenvolvimento e a saúde mental dos idosos. Enfim, nós vamos buscar focar nas pessoas porque essa é uma necessidade de Salvador.

Blog do Éden – Feminista, comunista, dilmista. Em tempos em que a política do ódio, como unificar Salvador?

Unificar Salvador dialogando e governando para toda a cidade. Essa é a matriz da solução democrática. Infelizmente o atual gestor tem uma visão extremamente autoritária, uma herança política autoritária que o leva, inclusive, a achar que não precisa ter eleições porque já pode se considerar reeleito. A escolha do seu candidato a vice foi dolorosamente explicitada como a escolha do seu sucessor. Então, na verdade, para o atual prefeito as eleições municipais são apenas o primeiro tempo das eleições de 2018. Portanto, nós vamos unificar a cidade tocando nas questões sociais. Nós precisamos de saúde, precisamos de maternidade, pois Salvador é uma cidade onde quase 50% das famílias são chefiadas por mulheres e onde não há maternidade, onde as gestantes perambulam pela cidade porque as maternidades estão cheias. Então nós vamos dialogar com toda a cidade e assim unificar os interesses e os direitos dos que mais precisam. Como mulher, como feminista, me coloco contra o machismo, contra a cultura do estupro e vamos fazer de Salvador uma cidade que desenvolva a cultura da paz, contra a intolerância religiosa. Nossa cidade é linda porque a alma do seu povo é leve, é boa, e nós precisamos trabalhar cada vez mais a cultura do respeito ao credo do outro, da tolerância. Então vamos unificar a cidade em torno destas questões.



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